segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Meu memorial analítico descritivo



MEMORIAL ANALÍTICO DESCRITIVO
Alysson Cipriano Pereira

O futuro não nos faz. Nós é que nos refazemos na luta para fazê-lo. (Paulo Freire)

O presente memorial tem por objetivo descrever minha carreira de professor de Sociologia no Ensino Médio a mais de uma década e o quão é importante entrar no Mestrado em Educação ofertado pela UFMT para que consiga contribuir com um estudo para a melhora sistêmica das aulas ofertadas no Estado do Mato Grosso em Sociologia e para nossa nação como um todo, ao evidenciar um modelo de gestão de aulas ofertadas com um modelo racional burocrático adequado a permitir o estímulo crítico do ensino.
Meu nome é Alysson Cipriano Pereira, tenho 39 anos de idade, nasci e vivi praticamente toda minha vida na cidade de Maringá, no Estado do Paraná. Sou o último filho de João Cipriano Pereira e Maria Celia Pereira, que mesmo não tendo mais do que o ensino primário básico, permitiram condições para seus filhos conquistassem o Ensino Superior.
Sou casado com Hellen Waleska Giroto Pereira a quase 10 anos, mulher que me apoiou em tudo, inclusive não me permitindo esmorecer diante das dificuldades em trabalhar no comércio e estudar na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Assim como eu, ela leciona na rede pública de ensino. Desde 2012 compartilhamos da felicidade de termos um filho, Logan Arthur Cipriano Pereira, que me deu mais um motivo para continuar lutando para me tornar um profissional melhor e com a estabilidade mínima necessária para trabalhar. Neste ano, consegui passar no concurso público para professor do Ensino Médio na matéria de Sociologia no Estado do Mato Grosso.
Como exige este memorial analítico-descritivo, comentarei agora a partir de minha formação de ensino e minhas vivências educacionais. Comecei a estudar no ano de 1986, ano posterior ao fim da Ditadura Militar que assolou brutalmente nosso povo e nosso ensino. Embora não fosse perceptível ainda para mim que estava começando o processo de letramento, matérias de humanas não faziam parte do ensino de maneira correta, digo isso por causa da aberrante matéria de Organização Social e Política Brasileira (OSPB), conhecida hoje por reverenciar nossos fardados opressores.
No ano de 1988 tivemos a nova Constituição Federal, que permitiu já no seu início a liberdade de expressão. Dois anos depois, quando entrei na quinta série, minha professora de História disse em nossa primeira aula para esquecermos boa parte do que nossos livros de OSPB diziam para nós, pois não eram verdade. Meu chão saiu de baixo de meus pés. Como assim nossos livros mentiram? Quem era ela para dizer isso?
Ao terminar o Ensino Fundamental mudei para o Colégio Estadual Dr. Gastão Vidgal, que também era público, mas era uma escola maior e com o ensino médio. Lá, por uma dessas ironias do destino, conheci um livro que teria na formação do autor a relação com meu trabalho atual (e espero de toda minha vida). Não tive Sociologia no Ensino Médio (mesmo o Paraná tendo começado a ofertar antes de outros estados, isso ocorreu em 2006, e o fato que narro é do distante ano de 1997), mas a conheci como medida corretiva por algo errado que fiz na escola. O diretor me passou para ler e resumir o livro Ética e cidadania do sociólogo Herbert de Sousa (Betinho, muito conhecido na época pelas campanhas de combate a fome na televisão).
Em 1998 terminei o Ensino Médio e tentei ingressar sem sucesso na Universidade Estadual de Maringá no curso de Educação Física. Os vestibulares eram costumeiramente no início e no meio do ano. Meu primeiro vestibular foi no meio do ano de 1999 e o segundo no início de 2000. No último dia de prova do segundo vestibular fiquei sabendo de 11 cursos novos que iriam iniciar, dentre eles dois de humanas, Ciências Sociais e Filosofia. O novo vestibular seria um mês adiante, o que permitiria não ficar de fora do ambiente universitário mais um ano. Filosofia era no período vespertino, o que impossibilitava minha necessidade socioeconômica de trabalhar. Ciências Sociais era no período noturno. Realizei o vestibular e ingressei na primeira turma de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá.
Ingressei na primeira turma, mas só me formei no ano de 2006 (meu trabalho na época tomava tempo demais e precisava de muito para a leitura acadêmica adequada). Não desisti, e isso me possibilitou uma de minhas maiores felicidades, que é lecionar (no Paraná as aulas de sociologia voltaram ao ensino médio em 2006 e obrigatoriamente em todo o Brasil em 2008, décadas depois de serem retiradas pela ditadura militar). Em 2007 comecei a lecionar sociologia no ensino médio, e após 11 anos posso dizer que vivenciei o processo em que a sociologia foi garantida por lei em 2008 e retirada sua obrigatoriedade em 2017.
Explicarei isso a partir de agora. Até 2009 a disciplina era ofertada apenas em um ano do ensino médio, o que dificultava trabalhar adequadamente os conteúdos programáticos. Porém, o planejamento visava ampliação das séries ofertadas com o passar do tempo, como previsto na Lei nº 11.684/2008:

– iniciar em 2009 a inclusão obrigatória dos componentes curriculares Filosofia e Sociologia em, pelo menos, um dos anos do Ensino Médio, preferentemente a partir do primeiro ano do curso;
 – prosseguir essa inclusão ano a ano, até 2011, para os cursos de Ensino Médio de 3 anos de duração, e até 2012, para os cursos com 4 anos de duração.
Os sistemas de ensino e as escolas que avançaram, já têm implantado um ou ambos componentes em seus currículos, terão, com certeza, a possibilidade de antecipar a realização desse cronograma, para benefício maior de seus alunos.
           
            Em consonância com a Lei, nº 11.684/2008 a maioria dos Estados brasileiros retomaram progressivamente as aulas de sociologia no Ensino Médio, e Estados como o Paraná a colocaram no ensino médio com 2 aulas em cada ano. Vivenciei o atrito de estar no ambiente escolar neste processo, pois professores de outras disciplinas tiveram aulas reduzidas para tanto. Por não ter memória histórica de quando a disciplina foi retirada na ditadura militar ou por não considerar a outra disciplina com o mesmo grau de relevância, parte dos professores se revoltavam, mesmo que de forma silenciosa. Felizmente tínhamos a Lei que concordava com o Parecer da CNE/CEB nº 38/2006, homologada pelo então Ministro da Educação Fernando Haddad que exigia carga horária adequada para garantir o ensino com qualidade.

 Como já foi dito no Parecer CNE/CEB nº 38/2006, não há dúvida de que, qualquer que seja o tratamento dado a esses componentes, as escolas devem oferecer condições reais para sua efetivação, com professores habilitados em licenciaturas que concedam direito de docência desses componentes, além de outras condições, como, notadamente, acervo pertinente nas suas bibliotecas. Nesta oportunidade, pode-se acrescentar que as escolas devem definir claramente o papel desses componentes no seu currículo, destinando carga horária suficiente para o seu adequado desenvolvimento.

Vivenciei esta implantação que teve ganhos para alunos e professores. Os alunos tiveram oportunidade ter aulas com qualidade, ao passo que os professores, com mais séries com aulas de sociologia e no caso do Paraná que tinha duas aulas por semana, a possibilidade de ensinar com qualidade, com tempo e trabalhando no Estado citado, na metade das turmas (também possibilitou que outros professores pudessem ser contratados).
Junto a outros professores batalhei no campo das ideias quando tentaram diminuir aulas de sociologia para ampliar português e matemática. Levamos alunos de Sarandi em ônibus que alugamos para ajudar a questionar na paralisação que acontecia em Maringá (a maior foi feita na capital, a saber, Curitiba). A diretora de uma escola questionou que eu estava para ser pai naquele momento e que eu dependia do emprego, sugerindo que parasse de falar do assunto com professores e alunos. Lembro das lágrimas virem a meu rosto quando entrei na sala e meus alunos perguntavam sobre o assunto e tinha sido coagido a me calar. Olhei para o corredor e as janelas e decidi continuar a falar o que acontecia a nossa volta. Enfrentei também em outra oportunidade com meus colegas situação desfavorável quando abriram a possibilidade da Universidade Estadual de Maringá oferecer PARFOR de Sociologia, na modalidade EAD e apenas uma aula presencial por semana, com a justificativa de que precisavam de mais profissionais formados para lecionar, quando ainda não tinham esgotado as possibilidades de ofertar presencialmente em outros horários (só é ofertado o curso de Ciências Sociais na UEM no período noturno). Fui a Universidade e falei com alunos do centro acadêmico de Ciências Sociais de como isto impactaria suas vidas, e acabei indo nas salas do curso no período noturno para dialogar sobre o fato. Nós conseguimos valorizar o curso e, por hora, não existe ainda PARFOR de Sociologia na UEM.
Vivenciei derrotas que me marcam até hoje. Em 2015 ocorreu uma greve no Paraná que tinha mais de 50 pautas para as condições de trabalho que deviam ser revistas, a mais emblemática era que o governo pretendia alterar a Lei para poder utilizar o dinheiro do Paraná Previdência para saldar contas. Mesmo sendo professor contratado pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS), sempre fui sindicalizado e entendia que tinha que estar na greve que lutava pela aposentadoria dos servidores (claro que almejava um dia ser concursado naquele Estado, mas entendia que era necessário apoiar mesmo que nunca o fosse).
Estive presente em uma das experiências mais amargas do Estado do Paraná: o dia 29 de abril de 2015 na praça Nossa Senhora de Salete, em frente a sede do governo do Estado do Paraná em Curitiba. Fomos atacados por policiais a mando do governador Beto Richa. Durante mais de 2 horas um governo que dizia precisar do dinheiro do Paraná Previdência despejou toda sua truculência com policiais armados com cassetetes, balas de borracha, bombas de “efeito moral”. Helicópteros também participavam da ação com atiradores jogando também estas bombas. Nunca pensei que sentiria a sensação de me “afogar no seco”, pela falta de ar provocada pelas bombas.
 Enquanto tiros de bala de borracha passavam por mim e via colegas serem atingidos enquanto recuavam, eu que também já tinha feito o mesmo, ligava para minha esposa para falar que “estava bem” enquanto a ouvia chorar. Este choro me cortava por que amamos o papel da educação na vida das pessoas. O choro de meus companheiros, literalmente em uma ação grevista que tinha se transformado em um massacre (uma guerra teria os dois lados em mínima igualdade) me assolam até hoje. Fomos agredidos e o governo conseguiu alterar a lei para poder sacar dinheiro do Paraná Previdência. Estava extremamente fragilizado ao praticar o que ensino em sala de aula, a busca por melhorar nossa sociedade, no caso, nossa educação pública e seus direitos.
Infelizmente os ataques não sessaram. Em 2017 após o golpe de estado jurídico-midiático-parlamentar de 2016 que retirou a presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff do cargo e empossou Michel Temer, e este retirou, entre outras medidas nefastas, a histórica reparação da obrigatoriedade do ensino de Sociologia e Filosofia do Ensino Médio (devem ser retirada como disciplina obrigatória até 2019). 
O chão novamente saiu de meus pés. Com uma década de trabalho que tinha na época, posso afirmar que amo ser educador de Sociologia. Esta alteração permite a retirada das aulas, ainda mais quando vemos que na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) a jogada utilizada é falar que “não irá retirar Sociologia e Filosofia do Ensino Médio” mas que “só” as disciplinas deixarão de existir, e o conteúdo destas será anexado nas matérias de história e geografia. Neste momento, para respirar, mesmo com todo sofrimento, pensar no que disse Darcy Ribeiro em entrevista a Roda Viva ajuda:

Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.

Ainda passei por constrangimento público quando fui acusado de doutrinação marxista em uma escola que lecionei até o meio deste ano por ter levado um Doutor da UEM  para dar uma palestra sobre Karl Marx na disciplina de Sociologia (lembrando que é um dos principais autores da área e que a palestra além de excelente e qualificada, foi ofertada sem nenhum ônus a escola). Fui defendido por todos na escola, de alunos a professores, além de que fui brilhantemente defendido em nota de resposta ao Núcleo de Educação de Maringá (que encaminhou a denúncia anônima a escola aos cuidados de minha Diretora). Tempos extremos como os atuais em que querem banir o debate, em que a escola cada vez menos pode ser laica, em que a convicção parece ter mais relevância para a sociedade do que o saber arduamente acumulado e cientificamente sistematizado dos professores chegaram a minha pessoa, mas fui reconhecido e defendido por meus pares.
 Felizmente, depois de muito tempo, realizei dois concursos públicos em 2017 para professor de Sociologia (mesmo depois das más notícias, continuo buscando trabalhar no que e para que eu me formei). No concurso que participei em Joinville, Santa Catarina, fiquei em sexto lugar (embora fossem quatro vagas, tenho boa possibilidade de ser convocado por este certame valer por dois anos), e no que realizei em Rondonópolis, Mato Grosso, fui efetivado em décimo lugar de treze vagas (mesmo tendo feito três pós graduações nestes últimos 11 anos, por estas serem em Educação e não diretamente em Sociologia como o certame exigia, elas não foram contabilizadas para me beneficiar).
Minha maior estabilidade quando comparado a contratados (maior, mas não definitiva) permite finalmente que possa alçar voos maiores. Quero entender de forma qualificada  o processo de assenção e queda da Sociologia no Ensino Médio, entender as diferenças sistêmicas de políticas educacionais estaduais de como são oferecidas no ensino público do Mato Grosso e do Paraná além de produzir material reflexivo que possa ser usado nestes e em outros Estados visando um ensino público de Sociologia muito mais adequado e qualificado do que o sugerido na atual BNCC, um material alinhado a importância da disciplina para Charles Wright Mills relatada por Ricardo Dello Buono em entrevista a revista Sociologia.

Diante dessa conjuntura, a Sociologia é justamente a disciplina que vai se ocupar de tentar entender essas dinâmicas estruturantes que buscam conciliar a nossa animalidade e a civilização de cada um, e, principalmente, como os membros dessa socialização se organizam e se relacionam entre si.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei, nº 11.684/2008:  estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. 
BRASIL. Lei, n° 13.415/2017: retira da redação do Art. 36 o inc. IV referente a obrigatoriedade das disciplinas de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio.
BRASIL. Parecer CNE/CEB nº 38/2006: parecer homologado. Despacho do Ministro, publicado no Diário Oficial da União de 14/8/2006.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora Unesp, 2000.
JUNHO, Yago. Darcy Ribeiro: a antropologia vem do povo. Revista Sociologia, São Paulo, ano 8 n. 69, p. 52-59, 2014.
QUARESMA. Alexandre. A premissa sociológica: o professor de Sociologia Ricardo Dello Buono vê a ciência social como ferramenta importante para a libertação humana e enfatiza seu trabalho na realidade da América Latina e do Caribe. Revista Sociologia, São Paulo, ano 7, n. 64, p. 6-13, 2013.
RODRIGUES, Carla; SOUZA, Herbert de. Ética e cidadania. São Paulo: Moderna, 1994.




sábado, 13 de junho de 2015

A entrevista de Emir Sader na revista Sociologia

Emir Sader

Emir Sader é formado em Filosofia pela USP, onde também fez seu doutorado em Ciência. É um dos fundadores do Fórum Social Mundial e, recentemente, defende a atuação dos governos que tem diminuído a pobreza e a desigualdade social na América do Sul, batizado por ele de “governos pós-neoliberais”.
Na entrevista concedida a Juliana Vinuto e a Samuel Ralize de Godoy para a revista Sociologia da editora Escala é feito apontamentos interessantes, como o de que sua tese de mestrado (defendida em 1968, período em que o Brasil era assombrado pela nefasta ditadura militar), que foi relançada recentemente em seu livro Estado e Política em Marx, foi a primeira sobre Marx defendida na USP.
A versatilidade do autor em contextualizar sua obra é facilmente constatada em uma das interrogações realizadas na entrevista. A pergunta pediu para discorrer sobre como as elites conseguem manter seu poder político sobre a classe dominada. Para responder, ele vai além do já conhecido domínio exercido pela burguesia sobre os meios de produção. Explana sobre a administração hegemônica ideológica (utilizando a administração do estado de São Paulo das últimas duas décadas) e como mesmo quando esta enfrenta crises agudas, o poder se mantém, pois, a realidade não é tão perceptível para as pessoas como se espera. Para isso, indica a obra de Karl Marx, O dezoito Brumário de Louis Bonaparte em seu comentário.
De acordo com Sader (2014, p. 8)

É uma contradição social que Marx já encarava, no próprio livro O dezoito Brumário de Louis Bonaparte, os mecanismos ideológicos que fazem com que a realidade não pareça tal qual ela é. Como já dizia Marx, se a realidade parecesse tal qual ela é, a consciência não seria necessária para poder decifrar os complexos mecanismos da manipulação ideológica das elites de direita, mesmo em uma sociedade opressiva, excludente, como as sociedades brasileiras, latino-americanas, capitalistas contemporâneas.

Outro relato interessante de Sader (2014, p. 9-10) é o fato de os conhecimentos gerados pelas universidades ficarem enclausurados em seus muros, não se ligando diretamente aos que carecem da sabedoria libertadora que poderiam estimular. O pensamento institucional e cientificamente produzido, em sua maioria, não se converte em prática aplicada sobre e para a sociedade. Por ter esta postura de não apoiar adequadamente a sociedade com o que produz, não consegue também o apoio devido desta (as greves deste setor são um exemplo), que não reconhece muitas vezes uma necessidade em comum (no caso de uma greve, não entende que esta não é dos professores e funcionários somente, mas que pode atingir a suas próprias necessidades educacionais). Com isso, a práxis marxista não consegue ser posta em evidência, e, muito menos, em prática.
Como a entrevista foi realizada em outubro de 2014, cabe verificar sua visão sobre se o atual governo ainda prioriza políticas sociais a ajustes fiscais. Na entrevista Sader comenta sobre a redução da desigualdade social obtida nos governos petistas pós administração do PSDB, que tinha uma política de austeridade fiscal que não se pautava na condição social do povo brasileiro, mas no anseio insaciável das elites. Tem também perspectiva otimista sobre o Brasil, junto a outros países emergentes (os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estar em uma crescente econômica, inclusive, desenvolvendo um banco de desenvolvimento e um fundo de reservas para não só não deverem mais ao FMI como rivalizarem a ele.
Por fim, critica o sistema eleitoral brasileiro no tocante ao financiamento das campanhas eleitorais. Em uma relação de causa e efeito, mostra que nosso modelo eleitoral atual permite o financiamento privado, e os que investem tem óbvio interesse quanto a futuros privilégios. Para encerrar este conchavo é a favor do financiamento público de campanha (SADER, 2014).


Referência bibliográfica

SADER, Emir. Um cientista social que se expõe. Sociologia, ano V, n. 55, p. 6-13, novembro/dezembro de 2014. Entrevista concedida a Juliana Vinuto e a Samuel Ralize de Godoy.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Tentativa de socialismo ou ilusão de socialismo?


“A classe trabalhadora [...] não pode exprimir plenamente a própria condição de vida na ilusão jurídica da burguesia. Só pode conhecer  plenamente essa condição se enxergar a realidade das coisas, sem as coloridas lentes da burguesia” (ENGELS; KAUTSKY, 2012, p.21).


Li a matéria da Revista Sociologia n° 42 “Marxismo: coisa do passado?” e resolvi escrever um pouco. Confesso que não entendo  muito do que ocorreu para  o fracasso do socialismo da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), mas como a internet é um espaço de interação, creio que poderei aprender em uma possível discussão (além de procurar livros sobre este assunto).

O fracasso do socialismo soviético levou a crítica mais acentuada do marxismo como um todo, levando a uma caracterização tanto do socialismo como do comunismo como um sistema falho, inviável e inevitavelmente fadado ao fracasso. É claro que esta crítica foi feita por autores neoliberais que compactuavam com os princípios de livre concorrência, e que jamais permitiriam a igualdade para além da jurídica.

                Na matéria, Victor Bartoletti Sartori mostra que o socialismo descrito por Karl Marx e Friedritch Engels não aconteceu realmente, no máximo tivemos contato com o socialismo vulgar. Esse “socialismo” teve duas variantes conhecidas que utilizaram do aparato jurídico para se consolidar. A chamada social-democracia procura a transformação social sem a necessidade dos processos revolucionários (enfrentamento direto da burguesia pelo proletariado), através da criação de leis que regulem a vida social de forma mais justa que a atual. A outra, relata a experiência da Revolução Russa, em que a revolta popular gerou uma nova forma de poder, onde o Estado Maior se tornou dono dos meios de produção e criou leis para regular a vida sócio-econômica dos homens. Com o tempo, a máxima de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente, pode ser constatada na URSS, uma ditadura estatal totalitária que não devolveu o poder ao povo.

                As duas vertentes podem ser debatidas ao pensar sobre o assunto utilizando as reflexões presentes nas obras de Engels e Marx. Embora as leis possam dar melhores condições de vida e trabalho nas duas, as  pessoas de modo geral, não procuram romper com o direito a propriedade privada ou aos meios de produção por parte de uma elite (seja esta em posse de grandes capitalistas ou de grupos políticos que manipulam a “máquina do estado”).

                A matéria de Sartori deixa claro que tanto Friedrith Engels  em seu livro O Socialismo Jurídico como Karl Marx em sua Crítica ao Programa de Gotha que não ocorrerá transformação total do sistema capitalista para o socialista se o povo não tomar de fato posse dos  meios de produção.

                O século XX terminou, e podemos aprender com o processo sócio-histórico. O processo de transformação social pelas leis, na melhor das hipóteses, deixa a tomada dos meios de produção e seus lucros para depois. O comunismo sem participação democrática da população leva ao totalitarismo. O neoliberalismo só agrava as desigualdades sociais, beneficiando aristocratas e  fragilizando ainda mais os bens públicos estatais. A solução a conta gotas vem sendo experimentada, mas tem maior relação com o a morfina do que com o remédio. Sobre o Socialismo que falta ocorrer neste século, creio que a expressão de parte da música do grupo Titãs pode se adequar a tomada dos meios  de produção pelo proletariado: “...agente quer inteiro e não pela metade!”

domingo, 26 de setembro de 2010

Reavaliando os dados estatísticos

Para questionar mitos, é bom atentar para não criar novos. Continuo a ler a mesma velha revista Veja de 7 de março de 2007 (pretendo ler e comentar revistas mais atuais em breve), acabando por ficar intrigado com o artigo referente aos problemas na área da educação.
Gustavo Ioschipe elenca na matéria 4 problemas sobre educação que para ele não condizem com os fatos, por isso ele os classifica como mitos. Este artigo distorce os fatos ao não explorar o tema com mais parâmetros. Esse equívoco aparentemente intencional leva o texto a ir de contra a sua idéia original de derrubar mitos, pois pela displicência acaba gerando outros ainda mais promissores a elite. Os mitos serão expostos com a opinião do autor, mas agora com argumentos confrontados.
1o Mito: O professor brasileiro é mal remunerado
Neste tópico Ioschipe diz que é um erro tachar o professor brasileiro como mal remunerado tomando base outros países. Ao comparar um país dez vezes mais rico é óbvio que o professor ganha mais que no Brasil. Para saber sobre se um professor é bem ou mal remunerado ele sugere verificar a média salarial nacional. Mostra com isso inclusive que em países mais ricos a diferença salarial entre a média nacional e a renda do professor é 15 % menor que a em nosso país. Segundo ele o professor leva a melhor quando comparado a outras profissões que exijam escolaridade compatível. Cita de forma tendenciosa que em “estudos mais sérios” sobre o assunto os professores não são discriminados, e sim que recebem o que se espera para a sua formação e carga de trabalho, além de ter uma carga horária menor.
Comentário: O professor brasileiro recebe mal sim. É claro que existem profissões que recebam muito menos, mas isto não quer dizer que por que não é ainda pior do que ai está que não seja ruim. Em países mais desenvolvidos estes profissionais recebem mais do que aqui tanto pela riqueza destes países quanto pelo fato de ver o número posto pelo autor do artigo da Veja de outra forma: não é que lá eles recebam menos se comparados a outros setores do que aqui, e sim por que lá a desigualdade social é menor que aqui. O autor não considera que o profissional da educação trabalha muitas vezes fora da carga horária, não sendo assim, remunerado como em outros setores que geralmente recebem remuneração extra. Existem concursos em nível de 2o grau que remuneram mais do que o que emprega professor, um amigo meu trabalha no TRE e recebe acima de 3.000,00 reais. Não digo que deveria receber menos, acho que equiparar seria até concebível, mas se o critério é o nível de dificuldade, não entendi o que ocorreu neste concurso.
2o Mito: A educação só vai melhorar no dia em que os professores receberem salário mais auto
Ioschipe se baseia em estudos que dizem que o aumento no salário dos professores não melhora o desempenho dos estudantes, aponta uma pesquisa da UNESCO que mostra como equivoco formar cidadãos conscientes ao invés de privilegiar conteúdos básicos e dispara: o principal problema é fazer os professores estarem realmente aptos a ensinar.
Comentário: Concordo que uma melhor remuneração da classe que leciona nas escolas não gera necessariamente melhora educacional. Porém ajuda ao profissional não debandar para outras áreas melhor remuneradas, agravando o problema.
Quanto ao que se vale mais no ensino, não deve ser algo como preto e branco, e sim os tons acinzentados. Conteúdo é importante, mas cidadãos conscientes também, para que não se aprenda para si ou somente para os seus, mas para o bem de toda a sociedade. Se for feita uma pesquisa sobre o tema, embora sabemos que um não necessariamente implica no outro, bem trabalhado com os alunos, podem ser amalgamados.
É sempre urgente realmente ter professores que entre em sala sabendo ensinar, aliás, como em qualquer área é o mínimo que se espera, mas não é o que sempre se obtém. Cabe buscar, por exemplo, um concurso que concilie a questão meritocrática de saber para além de si, que consiga avaliar se sabe para transmitir o conhecimento. Ocorre também de o departamento de educação não respeitar o fato de que cada área de conhecimento tem que ser ministrada pelo profissional da área, o que embora seja um detalhe básico quanto a razão não é quanto a realidade dos fatos (exemplo: em Maringá muitos dos professores que lecionam sociologia não se formaram em ciências sociais, e isso não se justifica pela falta de profissionais, pois a UEM forma profissionais a todo ano, além da UEL que forma a ainda mais tempo  e é próxima a cidade, o que demonstra uma falha administrativa, ou política de conchavos ou ambos).
O mais urgente na verdade não é esta ou aquela medida em especial, mas sim o conjunto de medidas, pois para melhorar a educação nas escolas, temos que melhorar a condição de quem leciona, e mais importante que isso, temos que acompanhar as varias instâncias que se impõem entre o aluno e a escola, como as desigualdades sociais, o descomprometimento de muitos pais, mesmo quando para muitos a desculpa de ter que trabalhar seja justa, porém não deve permitir que esqueçam que isto não os isenta de zelar por seus filhos supervisionando, e não entregando esta responsabilidade somente aos educadores.
3o Mito: O Brasil investe pouco dinheiro em educação
O Brasil investe o mesmo que os países desenvolvidos.  O problema esta na má administração do recurso público.
Comentário: Aqui não criticarei de forma tão extensa. Concordo com o Ioschipe  quanto ao que se gasta não ser necessariamente pouco e quanto a má administração. Se entrar mais dinheiro para ser administrado desta forma, pouco mudará. Deve haver uma melhor administração, com punição severa para desvio de verba, além de uma fiscalização atuante e incessante neste sentido. Ajudará ainda mais se a verba para a educação aumentar, pois é comprovado por pesquisa que o aluno que se dedica e avança na educação, estatisticamente ganha mais do que quem não o faz. Se é função do estado se dedicar e zelar pelo bem dos seus, investir mais significa possibilitar a  melhorara de vida da população.
Se aqui temos mais desigualdades sociais que em países desenvolvidos, nada mais necessário então que mais recurso para a educação, para diminuir as desigualdades, aliadas sempre a outras medidas também de cunho social.
4o Mito: A escola particular é excelente
Alega que a escola particular não é sinônimo de boa qualidade educacional, mostrando com base em testes que os 25% mais ricos do Brasil não são superiores aos 25% mais pobres de países desenvolvidos. Mostra também que o sucesso em relação a escola pública se deve muito mais a condição social dos alunos (90%) do que ao maior nível educacional (10%). Critica que as escolas e faculdades formam mal os que acabam se tornando professores.
Comentário: Finalmente aparece o aspecto social como fator dominante, embora se comente de forma tão superficial que parece não ser tão relevante, pois mesmo quando o evidencia, rapidamente retoma o problema da educação como fruto de uma má formação intelectual dos professores. Chega a ser estranho como denigre a formação dos professores. Os dados apresentados neste tópico quanto as desigualdades sociais influenciando diretamente na educação (90% é extremamente expressivo) deveriam ser a linha mestra do artigo, e não um mero detalhe. É justamente o detalhe de uma menor desigualdade social que mostra que os mais pobres dos países desenvolvidos tem melhor desempenho que os mais ricos de nosso país.
Mais importante do que melhor salário, melhor investimento, é, sobre tudo, o que leva a tudo isso e a muito mais, a maior igualdade social, possibilitando aos alunos terem igualdade quanto à busca do conhecimento, sem se preocupar tanto se tem o que comer e se tem que trabalhar além de estudar, e aos professores, que ao se verem em pé de igualdade quanto ao status social e econômico de outros ramos, não procuram sair da área de transmissão de conhecimento.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cidadão Inviável




Só o que cresce é o estado...
...mesmo?

Na matéria “Só o que cresce é o estado”, publicada na revista Veja em 7 de março de 2007, a postura neoliberal é clara. Chega a mostrar a década de 90 como referência de tentar desvincular o estado de seu compromisso para com o povo, firmado pela Constituição de 1988.

A Constituição de 1988 é considerada a “Constituição Cidadã”, em grande parte por legitimar o compromisso do estado para com o seu povo. Na matéria esta é apontada como a principal vilã da falta de investimentos em aeroportos, portos, e estradas, pois os gastos assistencialistas consumiam na época de 35% a 39% do PIB (produto interno bruto).

Fábio Giambiagi, economista citado por Cíntia Borsato em sua matéria, diz que “já não há como negar que no âmago do atraso, aparece como destaque a Constituição de 1988.” A parábola do ensinar a pescar é citada, dizendo que o erro foi que a constituição não ensinou a pescar, e sim, deu o peixe a todos. Bom, aqui pontuo um erro duplo: não somos pessoas a quem o estado plenamente garante tal benéfico, e mesmo que fosse verdade, um estado para o povo logicamente deveria ser pelo povo, o que não condiz com o nosso fragilizado neoliberal, que está sendo destruído pelos que ironicamente até o momento mais beneficiou: a elite.

Giambiagi comenta que o tratamento ao povo gera gastos aos cofres públicos, o que eleva os impostos ao mesmo povo. E neste ponto concordo com ele, mas discordo de como corrigir este erro, creio que embora não seja o que a elite quer, caberia uma nova forma de administrar o Brasil visando mais a igualdade social do que a disparidade. A fiscalização e pagamentos diferenciados de impostos por quem pode mais é uma possibilidade em geral ignorada. Isso por que é sempre dito que quanto menos impostos e outras obrigações trabalhistas possibilita gerar empregos, porém cabe comentar que não retrata a qualidade dos mesmos (na primeira foto que aparece na matéria é feito o comentário de que o setor de telemarketing emprega por não ter tanta influência do estado, mas não diz que esta falta cria empregos ou mais precários quanto a qualidade do ambiente do trabalho, ou pela perspectiva de crescimento profissional, pois a renovação constante dos trabalhadores apontam para isso). Administrar e fiscalizar os benefícios obtidos repetidas vezes no ano em forma de aumento de salário e reajustes, além dos conhecidos desvios de verbas públicas por quem usa da confiança em urna do povo para elevar a patamares estratosféricos a sua condição e de seus subordinados também diminuiria o gasto dos cofres públicos, e estas alinhadas a outras medidas de mesmo cunho aliviariam muito os nossos gastos quanto a nação.

É considerado uma bomba os direitos civis (mesmo que muitos estão mais na teoria do que na prática) por gerar gastos públicos que pelo que a matéria induz a entender são um atraso, ao invés de se investir em infra-estrutura. Não discordo de investir, mas já comentei que o erro também pode estar em não gerir corretamente o que é do povo, como no caso das privatizações. Creio que ao invés de privatizar os bens públicos por estes mais gerarem gastos do que lucros, cabe reavaliar as posturas administrativas, pois não encontro outro motivo para o bom funcionamento e lucratividade das empresas quando são privatizadas do que o de elas terem sido mal administradas pelo estado, que poderiam beneficiar mais o povo quando são administradas para e pelo povo, antagônica a estarem rendidas aos interesses de grupos externos aos estado, visivelmente mais motivados pelo capital.

Voltando ao texto e sua indução, destaco mais uma frase. “A produtividade é o principal determinante do desenvolvimento duradouro de um país.” Eu penso que este determinante é o que leva ao que Karl Marx chama de lucro, que acirra ainda mais a luta de classes. Ideologias como esta vinculada em uma revista como a Veja não tem outro intenção que não seja, novamente citando Marx, a alienação.

O texto traz comparações estatísticas dizendo que o crescimento de países com gastos estatais menores a 10% tem crescimento de PIB maior do que os que gastam 20%. Novamente ao relatar o culpado, o povo é sumariamente acusado das despesas, e nunca a elite e nossos gestores democraticamente eleitos (pela falta de outros possíveis responsáveis, é o que leva a entender).

Para finalizar, é citado na matéria os principais tópicos desse nosso “atraso”, e eu vou reproduzir o último e notoriamente mais neoliberal de todos:

“Viés anticapitalista – A ética anglo-saxã incentiva as pessoas que se dão bem pelo esforço próprio. Ela se alicerça no império da lei, de modo impessoal e valendo para todos. No Brasil, a tradição socioreligiosa é de outra ordem: predomina o desejo de obter recursos e privilégios do setor público. Para muitos brasileiros, o lucro ainda é sinônimo de pecado.

Tudo óbvio? Mas nada é mais difícil e cansativo do que tentar demonstrar o óbvio...”


Bom, pensando em religião, e em uma moral cristã, Cristo não veio ao mundo (para os fiéis) para obter lucro, ele veio para e pelo o povo, e pregava a felicidade pela fé, não pela avareza.

Sociologicamente, não é a busca meramente de privilégios públicos, e sim o de igualdade social, que por não ser facilmente aceita pelos que estão na elite e querem ter lucros cada vez mais do que outros, tem que ser instituída inicialmente pela lei, até que todos compreendam a necessidade ética da igualdade social.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Boa tarde a todos!
Como ainda estou aprendendo a usar o blog, vou colocar algumas fotos e vídeos.
A intenção é trabalhar neste blog matérias relevantes ao vestibular de sociologia (para auxiliar meus alunos, ex-alunos amigos e desconhecidos) assim como usar para minha vida pessoal, postando minha opinião e fatos do cotidiano com família e amigos.