Emir
Sader
Emir
Sader é formado em Filosofia pela USP, onde também fez seu doutorado em
Ciência. É um dos fundadores do Fórum Social Mundial e, recentemente, defende a
atuação dos governos que tem diminuído a pobreza e a desigualdade social na
América do Sul, batizado por ele de “governos pós-neoliberais”.
Na
entrevista concedida a Juliana Vinuto e a Samuel Ralize de Godoy para a revista
Sociologia da editora Escala é feito apontamentos interessantes, como o de que
sua tese de mestrado (defendida em 1968, período em que o Brasil era assombrado
pela nefasta ditadura militar), que foi relançada recentemente em seu livro
Estado e Política em Marx, foi a primeira sobre Marx defendida na USP.
A
versatilidade do autor em contextualizar sua obra é facilmente constatada em
uma das interrogações realizadas na entrevista. A pergunta pediu para discorrer
sobre como as elites conseguem manter seu poder político sobre a classe
dominada. Para responder, ele vai além do já conhecido domínio exercido pela
burguesia sobre os meios de produção. Explana sobre a administração hegemônica
ideológica (utilizando a administração do estado de São Paulo das últimas duas
décadas) e como mesmo quando esta enfrenta crises agudas, o poder se mantém,
pois, a realidade não é tão perceptível para as pessoas como se espera. Para
isso, indica a obra de Karl Marx, O dezoito Brumário de Louis Bonaparte em seu
comentário.
De
acordo com Sader (2014, p. 8)
É
uma contradição social que Marx já encarava, no próprio livro O dezoito
Brumário de Louis Bonaparte, os mecanismos ideológicos que fazem com que a
realidade não pareça tal qual ela é. Como já dizia Marx, se a realidade
parecesse tal qual ela é, a consciência não seria necessária para poder
decifrar os complexos mecanismos da manipulação ideológica das elites de
direita, mesmo em uma
sociedade opressiva, excludente, como as sociedades brasileiras,
latino-americanas, capitalistas contemporâneas.
Outro
relato interessante de Sader (2014, p. 9-10) é o fato de os conhecimentos
gerados pelas universidades ficarem enclausurados em seus muros, não se ligando
diretamente aos que carecem da sabedoria libertadora que poderiam estimular. O
pensamento institucional e cientificamente produzido, em sua maioria, não se
converte em prática aplicada sobre e para a sociedade. Por ter esta postura de
não apoiar adequadamente a sociedade com o que produz, não consegue também o
apoio devido desta (as greves deste setor são um exemplo), que não reconhece
muitas vezes uma necessidade em comum (no caso de uma greve, não entende que
esta não é dos professores e funcionários somente, mas que pode atingir a suas
próprias necessidades educacionais). Com isso, a práxis marxista não consegue
ser posta em evidência, e, muito menos, em prática.
Como
a entrevista foi realizada em outubro de 2014, cabe verificar sua visão sobre
se o atual governo ainda prioriza políticas sociais a ajustes fiscais. Na
entrevista Sader comenta sobre a redução da desigualdade social obtida nos
governos petistas pós administração do PSDB, que tinha uma política de
austeridade fiscal que não se pautava na condição social do povo brasileiro,
mas no anseio insaciável das elites. Tem também perspectiva otimista sobre o
Brasil, junto a outros países emergentes (os BRICS – Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul), estar em uma crescente econômica, inclusive,
desenvolvendo um banco de desenvolvimento e um fundo de reservas para não só
não deverem mais ao FMI como rivalizarem a ele.
Por
fim, critica o sistema eleitoral brasileiro no tocante ao financiamento das
campanhas eleitorais. Em uma relação de causa e efeito, mostra que nosso modelo
eleitoral atual permite o financiamento privado, e os que investem tem óbvio interesse
quanto a futuros privilégios. Para encerrar este conchavo é a favor do
financiamento público de campanha (SADER, 2014).
Referência bibliográfica
SADER, Emir. Um cientista
social que se expõe. Sociologia, ano
V, n. 55, p. 6-13, novembro/dezembro de 2014. Entrevista concedida a Juliana Vinuto
e a Samuel Ralize de Godoy.