sábado, 13 de junho de 2015

A entrevista de Emir Sader na revista Sociologia

Emir Sader

Emir Sader é formado em Filosofia pela USP, onde também fez seu doutorado em Ciência. É um dos fundadores do Fórum Social Mundial e, recentemente, defende a atuação dos governos que tem diminuído a pobreza e a desigualdade social na América do Sul, batizado por ele de “governos pós-neoliberais”.
Na entrevista concedida a Juliana Vinuto e a Samuel Ralize de Godoy para a revista Sociologia da editora Escala é feito apontamentos interessantes, como o de que sua tese de mestrado (defendida em 1968, período em que o Brasil era assombrado pela nefasta ditadura militar), que foi relançada recentemente em seu livro Estado e Política em Marx, foi a primeira sobre Marx defendida na USP.
A versatilidade do autor em contextualizar sua obra é facilmente constatada em uma das interrogações realizadas na entrevista. A pergunta pediu para discorrer sobre como as elites conseguem manter seu poder político sobre a classe dominada. Para responder, ele vai além do já conhecido domínio exercido pela burguesia sobre os meios de produção. Explana sobre a administração hegemônica ideológica (utilizando a administração do estado de São Paulo das últimas duas décadas) e como mesmo quando esta enfrenta crises agudas, o poder se mantém, pois, a realidade não é tão perceptível para as pessoas como se espera. Para isso, indica a obra de Karl Marx, O dezoito Brumário de Louis Bonaparte em seu comentário.
De acordo com Sader (2014, p. 8)

É uma contradição social que Marx já encarava, no próprio livro O dezoito Brumário de Louis Bonaparte, os mecanismos ideológicos que fazem com que a realidade não pareça tal qual ela é. Como já dizia Marx, se a realidade parecesse tal qual ela é, a consciência não seria necessária para poder decifrar os complexos mecanismos da manipulação ideológica das elites de direita, mesmo em uma sociedade opressiva, excludente, como as sociedades brasileiras, latino-americanas, capitalistas contemporâneas.

Outro relato interessante de Sader (2014, p. 9-10) é o fato de os conhecimentos gerados pelas universidades ficarem enclausurados em seus muros, não se ligando diretamente aos que carecem da sabedoria libertadora que poderiam estimular. O pensamento institucional e cientificamente produzido, em sua maioria, não se converte em prática aplicada sobre e para a sociedade. Por ter esta postura de não apoiar adequadamente a sociedade com o que produz, não consegue também o apoio devido desta (as greves deste setor são um exemplo), que não reconhece muitas vezes uma necessidade em comum (no caso de uma greve, não entende que esta não é dos professores e funcionários somente, mas que pode atingir a suas próprias necessidades educacionais). Com isso, a práxis marxista não consegue ser posta em evidência, e, muito menos, em prática.
Como a entrevista foi realizada em outubro de 2014, cabe verificar sua visão sobre se o atual governo ainda prioriza políticas sociais a ajustes fiscais. Na entrevista Sader comenta sobre a redução da desigualdade social obtida nos governos petistas pós administração do PSDB, que tinha uma política de austeridade fiscal que não se pautava na condição social do povo brasileiro, mas no anseio insaciável das elites. Tem também perspectiva otimista sobre o Brasil, junto a outros países emergentes (os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estar em uma crescente econômica, inclusive, desenvolvendo um banco de desenvolvimento e um fundo de reservas para não só não deverem mais ao FMI como rivalizarem a ele.
Por fim, critica o sistema eleitoral brasileiro no tocante ao financiamento das campanhas eleitorais. Em uma relação de causa e efeito, mostra que nosso modelo eleitoral atual permite o financiamento privado, e os que investem tem óbvio interesse quanto a futuros privilégios. Para encerrar este conchavo é a favor do financiamento público de campanha (SADER, 2014).


Referência bibliográfica

SADER, Emir. Um cientista social que se expõe. Sociologia, ano V, n. 55, p. 6-13, novembro/dezembro de 2014. Entrevista concedida a Juliana Vinuto e a Samuel Ralize de Godoy.